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Sírios observam a Ucrânia com medo e esperança

Medidas de proteções internacionais oferecidas aos ucranianos podem também ser estendidas aos sírios

Membros da comunidade síria participam de uma manifestação da Síria Wants Freedom contra ataques das forças armadas sírias e aliados a civis, bem como a invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia na Praça Dam em 26 de fevereiro de 2022 em Amsterdã, Holanda. © 2022 Paulo Amorim/Sipa via AP Images

Nos últimos dois anos, um status quo sombrio se estabeleceu na Síria: uma economia em ruínas, uma nação fragmentada e os perigos contínuos que os refugiados enfrentam no retorno forçado para casa.

No entanto, no período que antecedeu o 11º aniversário da revolução síria, houve alguns indícios isolados de otimismo. Os julgamentos em Koblenz, na Alemanha, por exemplo, levaram um ex-oficial do regime de Assad à justiça no início deste ano. Os sírios estão observando a condenação internacional rápida e generalizada  da invasão russa à Ucrânia com um sentimento de reivindicação, enquanto testemunham países coordenando uma oposição rigorosa ao aliado do presidente sírio Assad, o presidente Vladimir Putin, à medida que as forças russas cometem ataques ilegais, matando e ferindo civis.

“A Ucrânia é uma causa síria”, escreveu recentemente o reconhecido intelectual sírio Yassin al-Haj Saleh.

Imagens recentes da Ucrânia mostram que a destruição causada pelos ataques russos se assemelham com os que ocorream em Daraa e Homs. Vídeos em redes  sociais que mostram ataques possivelmente ilegais a hospitais e áreas residenciais são lembranças assustadoras das  ofensivas aéreas brutais cometidas pela aliança russo-síria em Aleppo e Idlib desde 2015. Como Saleh observou, “os sírios que se opõem ao presidente Bashar al-Assad podem ficar atrás apenas dos próprios ucranianos quando se trata de todos os horrores da guerra que o regime de Vladimir Putin está travando na Ucrânia”.

Apesar da diferença de tratamento na mídia e na urgência com que os países responderam à Ucrânia em comparação com a Síria, o amplo comprometimento de ativistas e grupos da sociedade civil com os direitos fundamentais e a solidariedade com outras pessoas que enfrentam repressão não foi abalado. Ativistas e refugiados sírios muitas vezes estão entre os primeiros a demonstrar solidariedade com outras pessoas que enfrentam crises - e nas últimas três semanas não foi diferente. A organização humanitária síria White Helmets (em português, Capacetes Brancos), que alega ter salvo a vida de milhares de sírios por meio de seus esforços de resgate,  expressou recentemente sua prontidão para atuarem como voluntários na Ucrânia.

Eventos recentes mostraram que o mundo é capaz de se mobilizar para se opor a agressores brutais, que os países podem dispensar suas regulamentações de vistos para pessoas que necessitam fugir de conflitos e que os refugiados podem ser recebidos com compaixão. Portanto, mesmo que o mundo tenha, muitas vezes, abandonado os sírios para enfrentar ataques de vários abusivos atores armados, este momento deve servir como um lembrete de que a experiência dos sírios com graves violações de direitos é a mesma sofrida pelos ucranianos e que eles também merecem as mesmas proteções e apoio de forma contínua.

 

Maya Ghazi é um pseudônimo usado para proteger a identidade de uma pessoa funcionária da Human Rights Watch.

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