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Não há “Dignidade e Orgulho” no Abuso de Trabalhadores da Copa do Mundo

A FIFA deveria respeitar seus compromissos com os direitos dos trabalhadores migrantes

Trabalhadores a caminho do Estádio de Lusail, um dos estádios da Copa do Mundo de 2022, em Lusail, Qatar, 20 de dezembro de 2019. © 2019 AP Photo/Hassan Ammar

Em uma conferência intitulada “Gerenciando o Jogo Bonito”, o presidente da FIFA, Gianni Infantino, lamentavelmente minimizou as mortes e as duras condições enfrentadas por trabalhadores migrantes empregados na construção das infraestruturas da Copa do Mundo da FIFA 2022 no Qatar. Ao fazer isso, ele lembrou ao mundo que as mortes evitáveis e abusos de trabalhadores migrantes no Qatar são uma falha histórica que precisa ser tratada antes do pontapé inicial da abertura da Copa em novembro.

O moderador da conferência perguntou a Gianni Infantino: “Vocês estão estabelecendo algum tipo de compromisso para ajudar e apoiar as milhares de famílias de pessoas que faleceram durante a construção destes estádios?”

Embora tivesse acabado de mencionar os bilhões de dólares em receitas que a FIFA gerará com a Copa de 2022, Infantino se recusou a comprometer-se a indenizar as famílias de trabalhadores que não receberam salários - ou perderam suas vidas - construindo a Copa do Mundo.   

Infantino ofendeu ainda mais esses trabalhadores com sua declaração: “Quando você dá trabalho a alguém, mesmo em condições difíceis, você lhe dá dignidade e orgulho”. Em seguida, ele acrescentou: “Agora, 6.000 [pessoas] talvez tenham morrido em outras obras etc. [mas] a FIFA não é a polícia do mundo”.

Em virtude de seu próprio estatuto e das responsabilidades sob os Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos, a FIFA se comprometeu a garantir que os países anfitriões cumpram as normas fundamentais de direitos humanos.

Milhões de trabalhadores que migraram para o Qatar em virtude da promessa de oportunidades econômicas não encontraram “dignidade e orgulho”, e foram sujeitados a graves abusos, alguns dos quais podem configurar trabalho análogo à escravidão. Estes abusos, que ocorrem sob o restritivo sistema de kafala, já tinham sido  bastante  documentados quando a FIFA elegeu o Qatar como anfitrião da Copa do Mundo em 2010.

Dignidade e orgulho no trabalho se concretizam através de remuneração justa, condições de vida e de trabalho seguras, e respeito aos contratos. No entanto, para muitos trabalhadores migrantes no Qatar, a realidade tem sido o pagamento de taxas de recrutamento exorbitantes que podem levar anos para serem quitadas, meses de salários atrasados ou não pagos por trabalhos que realizaram, e locais de trabalho inseguros e acomodação inadequada que levaram ao registro de 6.000 mortes inexplicadas e à perda de entes queridos e de meios de subsistência para suas famílias.

Faltando apenas seis meses para a Copa do Mundo, a FIFA precisa intensificar seus esforços e cumprir com suas responsabilidades de direitos humanos, em vez de encobrir os horríveis abusos trabalhistas por trás do “jogo bonito”.

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